O grande teste: Emerson e Chapman
Na edição de março de 71, o diretor da Lotus e seu melhor piloto avaliaram o LTD, Corcel GT, Puma, Volks TL, Opala SS e Charger
Colin Chapman, campeão mundial dos construtores de Fórmula 1 e diretor da Gold Leaf Team Lotus, e Emerson Fittipaldi testaram em Interlagos seis carros brasileiros para a QUATRO RODAS de março de 1971. Como são carros de características muito diferentes, os dois concordaram em que os resultados do teste não devem ser comparados.
O grande teste: Emerson e Chapman
CORCEL GT
CHAPMAN: "Linhas razoáveis e boa distribuição de espaço interno" foram as impressões de Chapman sobre o Corcel GT. Ele não gostou, entretanto, do acabamento e apontou os frisos da parte interna da porta, que estavam soltos e faziam barulho. Criticou a direção ¬- por achar que ela refletia as imperfeições do terreno e a estabilidade: "O motor fica muito na frente e isso prejudica o comportamento do carro nas curvas". Achou muito alto também o nível de ruído interno, reflexo das vibrações do motor. No fim da maior reta de Interlagos, ele chegou a 132 km/h marcados no velocímetro. Mas na subida do boxe, a velocidade caiu para 70 km/h e Chapman sorriu: "Falta potência; acho que não vamos chegar nunca".
Concluiu que o motor deveria ter mais força e achou regulares os freios. Antes de parar, porém, elogiou o conforto dos assentos dianteiros.
Emerson fêz poucas restrições ao Corcel GT: achou seu motor 80 HP pouco potente para os 940 kg do carro e difíceis de ler os instrumentos no painel: tinha de inclinar o corpo para a direita para examinar os relógios. Mas do resto ele gostou. Achou bons os freios e a estabilidade, muito bons a posição de dirigir, os pedais, a alavanca de câmbio e a direção.
Como nos testes com os outros carros, Emerson alcançou com o Corcel GT maior velocidade do que Chapman. No final da maior reta de Interlagos, ele chegou aos 142 km/h, 10 a mais do que Chapman. E, dando demonstrações de sua habilidade, fez as curvas sempre no limite, corrigindo com facilidade a tendência natural do Corcel de sair de frente (sobesterço). No final do teste, elogiou a maciez do carro e considerou que, apesar de pouco potente para um desempenho esportivo, o motor do Corcel GT pode ser considerado satisfatório para o motorista comum.
CHARGER R/T
CHAPMAN: O estilo do Charger R/T agradou muito a Chapman. Ele apontou como bons detalhes o teto rebaixado na traseira e os faróis embutidos. Antes de sair para a pista, elogiou também o acabamento. Com metros adiante, experimentou os freios e não gostou. Disse que poderiam ser melhores. No fim do retão, a 160 km/h, criticou novamente os freios. Achou que eles eram insuficientes para a potência e o bom desempenho do carro. Foi nas curvas do miolo do circuito que ele mais elogiou o R/T, por sua obediência e pela maciez da direção hidráulica.
Gostou da estabilidade e da posição da alavanca de câmbio, instalada no console central. Mas achou ruim a posição dos pedais: muito altos e perto um dos outros. Explicou que, num carro com o desempenho esportivo do Charger R/T, os comandos precisam ser adequados para responder aos movimentos rápidos do motorista.
EMERSON: "Ótima estabilidade, obediente, gostoso de dirigir e direção excelente", comentou Emerson depois de ter chegado aos 160 km/h marcados no velocímetro do Charger R/T, no fim da maior reta de Interlagos. Ao contrário de Chapman, ele só usou os freios 100 metros antes da curva, ao mesmo tempo que reduzia da quarta para a terceira marcha e fazia os pneus rangerem na pista.
No miolo do circuito, Emerson exigiu ainda mais do R/T e elogiou sua arrancada, que o ajudava a sair das curvas com facilidade. Gostou também do comportamento neutro do carro: nas curvas, ele não mostrou a tendência de sair de frente ou de traseira. Mas como Chapaman, achou que eles são muito próximos uns dos outros e dificultam as manobras mais rápidas.
Emerson disse que gostou do R/T, que escolheria um para uso pessoal, se fosse para ficar no Brasil.
Para Emerson, o melhor carro foi o Dodge Charger R/T, que ele elogiou pelas linhas modernas, conforto e bom desempenho. Também gostou muito do Puma, principalmente pela beleza e estabilidade. Depois de fazer curvas em grande velocidade, ele comentou:"O Puma é firme como uma rocha". Só não gostou dos pedais por achar que são muito longos.
LTD LANDAU
CHAPMAN: Chapman se desapontou quando chegou ao fim da maior reta de Interlagos, acelerando ao máximo, e o ponteiro do velocímetro do LTD Landau não foi além dos 140 quilômetros por hora. Disse que, sendo um carro hidramático e de luxo, seu motor poderia ter um pouco mais de força.
Não gostou nem da estabilidade nem da posição de dirigir. Mas reconheceu que o Landau é excepcionalmente silenciosos e confortável: "É um carro muito bom para quem quer a tranqüilidade de um motorista particular e o conforto do assento traseiro".
Nas curvas fechadas do circuito interno de Interlagos ele correu muito. E, a cada curva, o Landau se inclinava demais: foi por isso que Chapman criticou sua estabilidade. Mas ele concliu o teste elogiando o bom acabamento do Landau: "Perfeito em todos os detalhes: dos que testei aqui, êle é o mais bem acabado".
EMERSON: Numa das curvas de Interlagos o LT Landau se inclinou tanto, dirigido por Emerson, que um dos aros tocou numa saliência da pista e saltou a calota. Emerson testou o Landau quase sempre a alta velocidade, comoos outros carros. E não gostou da aceleração e da estabilidade. Mas falou muito bem do estilo, do conforto e do silêncio. Achou ainda que o Landau não pode ser comparado com nenhum outro carro nacional por seu ótimo acabamento.
Ele chegou ao fim da grande reta de Interlagos a 150 km/h marcados no velocímetro, mas disse que o motor poderia ser ainda mais potente. Reconheceu, entretanto, que o Landau é um carro de grande categoria e não precisa necessariamente, ter o desempenho esportivo. O motor do Landau esquentou muito quando testado por Emerson e quando testado por Chapman. Mas os dois acharam que isso não é grave porque "o carro não foi feito para correr".
PUMA 1800
CHAPMAN: Antes de sair para a pista com o Puma, Chapman o examinou bem, elogiando seu estilo e acabamento. E, quando soube que o motor era Volkswagen de 1800 cc, entusiasmou-se. Logo que começou a andar, entretanto, achou muito elevado o nível de ruído interno: "Muito barulho; parece que é porque o motor fica logo atrás da gente". Queixou-se também da posição de dirigir: "O curso nos pedais é muito longo e o volante fica alto demais.
No retão, quando o ponteiro marcou 175 km/h, Chapman achou que o velocímetro estava marcando demais. Logo depois, antes da primeira curva, experimentou os freios e gostou do resultado. Gostou também da estabilidade do Puma, mas disse ter-se decepcionado um pouco com o desempenho do carro. "A aceleração é boa, mas, comparada com os modelos europeus de estilo semelhante, acho que ele anda muito pouco. Suas linhas merecem mais".
EMERSON: Emerson considerou muito bonitas as linhas do Puma e gostou do "toque agressivo" das rodas de magnésio aro 14. Mas disse que o acabamento geral poderia ser melhor. Quando começou a andar, criticou os pedais, muito longos e o volante muito alto. Achou muito alto também o nível de ruído interno, mas disse que num carro esportivo isso não é defeito.
Depois de fazer algumas curvas em manobras rápidas e fáceis, elogiou a estabilidade do Puma: "Firme como uma rocha". Mas não gostou muito dos freios por achar que não são progressivos como deveriam ser.
Quando êle deu o máximo com o Puma, o ponteiro chegou a indicar 190 km/h. Mas assim como o Chapmand, Emerson também achou que o velocímetro estava marcando demais. Concluiu assim mesmo que a aceleração e a velocidade máxima do Puma podem ser consideradas boas, mas que ele deveria ser um pouco mais potente.
Chapman gostou do Opala SS de 4100cc e disse que, se tivesse de comprar um carro no Brasil, escolheria esse, por seu estilo "simpático" e bom desempenho. O segundo de que ele mais gostou foi o Galaxie LTD Landau. Achou que o Landa poderia ter desempenho melhor, mas elogiou muito seu luxo e acabamento.
OPALA SS
CHAPMAN: Chapman gostou muito do Opala 4100cc por suas "linhas sóbrias, estilo compacto, aparência sólida e bom acabamento". Logo que saiu para o teste, considerou confortável a posição de dirigir e fácil de manejar a alavanca de câmbio no assoalho. Com facilidade chegou ao fim da maior reta a 170 km/h. Mas, quando tentou frear, não conseguiu: os freios falharam e só começaram a funcionar depois que apertou o pedal algumas vezes seguidas.
"Deve ter havido alguma falha de ajuste na montagem dos freios", comentou. Disse que o defeito pode ter sido eventual, mas ao dar nota, preferiu considerá-los "ruins". Depois disso, entrou muito quente numa curva, mas sorriu satisfeito quando o carro obedeceu bem e fêz a curva sem problemas. Por fim disse que, se fosse comprar um dos carros que testou no Brasil, escolheria o Opala 4100. "Ele acelera muito bem, é macio, veloz e estável. Mas os fabricantes devem tomar mais cuidado na montagem do freio".
EMERSON: O desempenho esportivo do Opala SS foi o que mais impressionou Emerson: chegou aos 180 km/h marcados no velocímetro e elogiou a estabilidade do carro. Gostou também da posição de dirigir, da alavanca de câmbio instalada no console e achou ótimos os freios (que não falharam, ao contrário do que ocorreu com Chapman). Mas achou muito alto o nível de ruído interno e fez outras restrições:
"Acho que o carro poderia ser um pouco mais baixo e ter rodas mais largas. Talvez isso melhorasse sua tendência de sair de frente, quando a gente entra muito quente nas curvas".
Também não gostou do estilo: achou que as linhas poderiam ser " mais atuais" e que um carro com o desempenho do Opala SS deveria ter duas portas e não quatro:
"Aquelas faixas pretas pintadas nos lados e no cofre do motor dão ao carro um jeito agressivo que não combina com as quatro portas".
VOLKS TL
CHAPMAN: Depois de percorrer a pista de Interlagos com o Volkswagen 1600 TL, Colin Chapman iniciou seus comentários falando da estabilidade do carro e dos seus freios:
"Ao ver o Volks TL, não pensei que ele pudesse ser muito estável, pois achei-o um tanto alto e desajeitado. Mas me enganei: a estabilidade me surpreendeu, e gostei muito dos freios".
Quanto à aceleração, disse que, comparada à do Corcel GT, que tinha testado um pouco antes, o TL sai ganhando mas deveria ser bem melhor. Criticou a traseira em fastback, "cujas linhas não combinam muito com o conjunto", e o acabamento, "que deveria ser melhor, pois não está de acordo com o padrão internacional da fábrica, que geralmente é muito cuidadosa com êsse aspecto".
Terminados os testes, Chapman viu um Gurgel QT (que é equipado com a mecânica Volkswagen) e quis experimentá-lo, na pista e no acostamento. Gostou muito. "É um carrinho ideal para quem quer se divertir", disse.
EMERSON: Emerson, embora não goste do estilo e do desempenho do TL, que considera demasiado conservadores, elogiou a direção do carro e achou confortável a posição do motorista. Ele não discute a resistência e a durabilidade do carro, mas acha que o TL, "tendo dois carburadores, deveria arrancar melhor e correr muito mais".
"Este Volks precisa de um motor mais potente, que corresponda ao seu tamanho e seu peso".
Achou razoável a estabilidade e - ao contrário da opinião de Chapman - fez restrições aos freios:
"São sensíveis demais e travam as rodas".
Admitiu porém que o defeito pudesse ser do carro utilizado para o teste, cujas rodas da frente travavam antes das rodas traseiras. Quanto ao acabamento, considerou-o compatível com o preço do TL. Mas reclamou ainda do nível de ruído, "excessivamente alto", e da aceleração, "um tanto modesta".